sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O livro completo da Filosofia

MANNION, James. O livro completo da Filosofia. São Paulo-SP: Editora Madras, 2008, 5ª ed, 286p.

Platão acreditava que existia uma Forma entre as Formas chamada de Bem, e este Bem tem sido interpretado como Deus. Esse reino misterioso onde as formas habitam é a realidade verdadeira e nós, pobres criaturas, continuamos em estado letárgico na caverna sombria de nossa realidade. P 37

Platão, como Pitágoras, também acreditava na reencarnação. Todos nós já vivemos anteriormente e vivemos de novo. E enquanto isso, nos intervalos, no período depois da morte e antes do renascimento, temos acesso ao reino das Formas e, então, podemos enfim “entender”. Sim, mas há uma dificuldade, como sempre há. Uma vez que retornamos ao reino material, nós esquecemos tudo o que podemos compreender no reino celestial, retendo somente uma consciência turva e perturbadora de que há algo maior do que nós mesmos. E essa busca infinita para recobrar o conhecimento perdido é o que nos transforma em filósofos potenciais. P 37

Aristóteles considerou a teoria das Formas ilógica e impossível de provar. (...). Aristóteles, por sua vez, defendia que o substancial aqui e agora era bastante real e que as Formas não eram elementos separados, mas características incorporadas no que podemos perceber com nossos sentidos. P 39

O estilo de vida epicurista é amplamente considerado como uma celebração à sensualidade, à indulgência do prazer; uma apreciação desavergonhada em todas as questões de libertinagem e gulodice. P 46

A palavra estóico permaneceu na linguagem e define um indivíduo que aceita os percalços da vida sem reclamar. P 48

Um estóico concordaria com um epicurista no conceito que afirma que todo o conhecimento advém da experiência sensorial. Elas não aceitavam a noção das Formas de Platão. A mente é uma tabula rasa, uma superfície em branco sob a qual as experiências são impressas. E porque todo o conhecimento é subjetivo, assim também é a verdade. Não há nenhuma Verdade Eterna no manual estóico. P 49

O cético mais famoso da Renascença foi Michael de Mintaigne (1533-15920, (...). Montaigne acreditava que nossos sentidos eram inerentemente suspeitos e que, portanto, devemos duvidar de tudo. Os indivíduos tinham direito a sustentar suas opiniões e todas as opiniões eram válidas porque nunca podemos ter certeza dos fatos. Montaigne tinha pequena fé na Revolução Científica. Ele acreditava que tal conhecimento era transitório e que eventualmente seria usurpado e refutado pelas gerações subseqüentes. P 83

O trabalho mais famoso de Hobbes é chamado O Leviatã. Em linguagem bíblica, o leviatã é um grande animal, parecido com aquele que engoliu Jonas. (A Bíblia nunca especifica se foi uma baleia, mas algumas edições citam a expressão “grande peixe”.). O Leviatã da obra de Hobbes é uma sociedade sem ordem. Hobbes considerava que, sem ordem, a sociedade se destruiria violentamente. Assim a ordem era essencial... p 89

Enquanto Hobbes considerava que a lei natural do homem era a sobrevivência a qualquer custo e o “estado da natureza” era violento e bárbaro, Locke acreditava em uma lei natural na qual os indivíduos tinham, parafraseando um autor famoso, “certos direitos inalienáveis”, como o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. P 95

George Berkeley (1685-1753) era um navegador do mundo das idéias. Ele acreditava que tudo era uma idéia, até mesmo a matéria física. Apenas as mentes e as idéias que elas geram são reais, de acordo com esse clérigo irlandês. Ele é considerado como o fundador da versão moderna do Idealismo, uma crença que remonta a Platão em sua apresentação original. (...) As coisas que percebemos não existem fora da mente. Elas não têm realidade substancial por si mesmas. P 96

Hume não apenas negou a existência das substâncias materiais de Locke, como também o mundo espiritual das idéias de Berkeley. Hume também rejeitou a existência do eu individual. Você não existe. De acordo com o filósofo, você nada mais é do que ele chamou de “uma coleção de diferentes percepções”. Ele rejeitou o princípio científico da causa e efeito e afirmou que a certeza do conhecimento de qualquer coisa é simplesmente impossível, exceto talvez a matemática. (...). “A razão nunca pode nos mostrar a conexão de um objeto com outro, a não ser através da experiência, e pela observação da conjunção deles em todas as ocorrências passadas. Contudo, quando a mente passa a idéia ou impressão de um objeto para a idéia ou crença de outro, esse processo não é determinado pela razão, mas por certos princípios que associam as idéias desses objetos e reúne-os na imaginação”. P 97

Em seu livro Discurso sobre a Origem e Fundação da Desigualdade entre a Humanidade, ele condena a influência corrosiva da sociedade educada, incluindo as artes e a política, sugerindo que elas eram deletérias para a humanidade. Ele professou que os povos primitivos do mundo eram superiores às sociedades “civilizadas” em todos os sentidos. Quanto mais sofisticada a civilização, mais desenfreados os seus vícios e sua corrupção. (...). Posteriormente, ele definiu o que quis dizer com o retorno à natureza como uma viagem interior, adotando virtudes de inocência e espiritualidade. P 103

Como os ingleses Hobbes e Locke, Rousseau também postulou sua versão do contrato social em um tratado político com o mesmo nome. [...]. Rousseau inicia O Contrato Social com a famosa frase: “O homem nasceu para ser livre e ainda assim está acorrentado por toda parte”. Nessa obra, Rousseau propõe que todos os homens foram criados iguais e dotados de certos direitos inalienáveis. P 103-104

Rousseau opôs-se ao que ele considerava a natureza opressora do sistema de ensino de seu tempo. Os pequenos, ainda em seu estado natural e não corrompido, deveriam ter suas naturezas espontâneas encorajadas, e não ameaçadas. P 104

Kant propôs que a realidade não é um universo ordenado esperando para ser percebido pela mente humana. Em vez disso, a mente humana absorve o caos e o ordena e estrutura dentro da realidade que percebemos. O tempo e o espaço conforme os entendemos não são conceitos externos a nós, eles são mecanismos intrínsecos que nos permitem fazer sentido da realidade. [...]. Se fôssemos enxergar a realidade sem os filtros de nossas próprias mentes e percepções, ela seria como um rabisco com giz de cera feito por uma criança em idade pré-escolar. Em outras palavras, ela seria um emaranhado nebuloso impossível de ordenar e que, provavelmente, nos levaria à loucura. P 109

Kant propôs que a mente tem “categorias de entendimento” que catalogam , codificam e concedem sentido ao mundo. A mente não pode experimentar nada que não seja filtrado através dos olhos da mente. Todavia, nunca podemos conhecer a verdadeira natureza da realidade. Nesse sentido, Kant afirma que realmente a “percepção é a realidade”. P 110




Enquanto Kant dizia que nós nunca poderíamos saber a verdadeira natureza da realidade, “a coisa em si”, Schopenhauer discordava. Se fôssemos simplesmente mentes sem corpos, talvez Kant pudesse estar certo. Mas todos nós temos corpos que são conduzidos e motivados pela vontade. A vontade é a realidade, de acordo com Schopenhauer. [...]. Na natureza, a vontade é manifestada no instinto de sobrevivência. Ele vai além dos reinos humano e animal, atingindo todo o universo. P 112-113

A vontade inspira o desejo e o desejo é uma memória constante das coisas que não temos na vida. Se não satisfazemos nossos desejos, a dor e a frustração aumentam. P 112

Nietzsche não estava interessado em controlar ou conquistar outros. Ele estava defendendo o domínio de si mesmo e a realização do seu potencial individual sem se permitir ser inibido por uma sociedade repressora. P 116

Sua afirmação deliberadamente provocativa é destinada a sacudir a realidade, fazendo com que as pessoas pensem sobre sua liberdade e o potencial do mundo humano, em vez de temer o castigo Divino ou sacrificar sua felicidade nessa vida na esperança de ser recompensado na próxima. P 116

Outros podem se machucar no caminho enquanto você exerce sua disposição ao poder e você também pode ser machucado pela disposição de outros, mas essa é a vida, de acordo com Nietzsche. P 118

A filosofia do Hedonismo Social de Jeremy Bentham não significava que todos tinham o direito de viver em ilha paradisíaca. Da mesma forma que a filosofia epicurista, o Hedonismo Social significava maximizar o prazer e minimizar a dor, o que não significava maximizar o prazer e minimizar a dor, o que não significava a instauração de uma indisciplina desenfreada. [..]. Bentham defendia a filosofia do Hedonismo, mas como o Epicurismo, isso não significava a busca imprudente do prazer. Bentham acreditava no Hedonismo Social, que pode ser traduzido como “a maior quantidade de felicidade para o maior número de indivíduos”. P 122

(sobre o pensamento de Kierkegaard) Ele celebrava o individual em detrimento do coletivo; na verdade, ele acreditava que, em relação às Grandes Questões, a opinião do grupo é invariavelmente uma opinião errônea. Precisamos pensar por nós mesmos e suspeitar do pensamento coletivo. Não devemos nos preocupar com o que nossos vizinhos da sociedade pensam, e sem decidir as coisas de maneira individual e, então, exercitar a integridade de defender nossas crenças apenas da pressão inevitável que será aplicada pelo grupo. P 135

Kierkegaard procurou fazer uma distinção entre o que ele chamava de verdade subjetiva e verdade objetiva. A verdade objetiva inidica que algo é verdadeiro, não importando se você sabe isso ou se acredita nisso. A verdade subjetiva que o que é verdade para você pode não ser verdade para seu vizinho. A filosofia do indivíduo de Kierkegaard claramente o conduziria para a verdade subjetiva como um único caminho possível. As verdades objetivas são criadas pelo grupo e o grupo não merece confiança como uma fonte de percepção, sabedoria e verdade. P 135-136

Esses conceitos de alienação, angústia e absurdos fizeram com que Kierkegaard fosse considerado o primeiro dos existencialistas. (...)... eles adotaram o credo da importância do individualismo contra a sociedade (...). O existencialismo decolou no século XX, mas ele tem suas origens na filosofia de Kierkegaard e Friedrich Nietzsche. P 136

(sobre o pensamento de Jean-Paul Sartre) Os indivíduos procuram a ordem em um mundo cruel e impessoal e encontram somente a indiferença, o desespero e uma jornada inexorável para um mundo solitário e silencioso, sem mesmo uma vida após a morte que proporcione algum auxílio póstumo. P 138

(sobre o pensamento de Albert Camus) Camus chegou à maturidade entre duas guerras mundiais na primeira metade do século passado. Ele procurou encontrar um significado na vida, apesar do desespero e do mal-estar que se estabeleceu na Europa daqueles dias. Sem qualquer fé em Deus, Camus buscou as respostas no invencível espírito humano e em sua habilidade de sobreviver e de prosperar enquanto carrega fardos insuportáveis. P 139

...a autoconfiança e o individualismo áspero são elementos essenciais para estar verdadeiramente vivo.... p 140

A Náusea conta a história de Roquentin, ... (...). O dilema do romance acontece quando Roquentin percebe que ataques de náusea são uma epifania existencial sobre o significado de sua vida e sobre seu lugar no universo. O medo é o resultado da conscientização de que você está totalmente sozinho e depende de si próprio. Com a liberdade vem a responsabilidade, conforme afirma o clichê. A conformidade e o conforto em estar incluído em uma sociedade estruturada é um refúgio para os covardes, mas isso é apenas uma ilusão. Tudo é caos na concepção existencialista. P 141

(sobre o pensamento de Émile Durkheim) Ele propôs que as culturas têm uma consciência coletiva. Os valores e as crenças mantidos por uma cultura conduzem o comportamento de seus membros sem que eles saibam. (...). Aqueles que não se conformam são depravados e, como resultado, a criminologia e o estudo da depravação são ramificações da escola sociológica que estuda os marginais da sociedade. Contudo, a maioria dos cidadãos está dentro dos parâmetros de uma consciência coletiva específica. P 155

Jung também propôs que dentro de cada homem há uma mulher interior e dentro de cada mulher há um homem interior – uma energia feminina e masculina que ele rotulou de anima (mulher interior) e animus (homem interior). (...). Essa idéia é similar à noção de Platão sobre o amor, que propõe que os humanos haviam sido parte de uma criatura andrógena, incluindo ambos os sexos. Essa criatura foi dividida em homem e mulher pelos deuses. E esse é o motivo pelo qual cada um procura sua contraparte para encontrar equilíbrio, sua outra metade perdida desde muito. Jung acreditava que essa luta acontecia dentro de cada indivíduo, estejamos conscientes disso ou não. P 165