sábado, 20 de novembro de 2010

Ritmo da tecnologia é decisivo para formar a personalidade da geração Z

G1 / Jornal da Globo / Fábio Turci - O mundo desses jovens, nascidos em meados de 1990, sempre teve internet, e-mail, celular, e, a toda hora, aparece uma novidade. A tecnologia também molda uma geração em que a comunicação é instantânea e nem sempre depende do olho no olho.

“Lerdeza”, diz Marco Briani, 17 anos, quando perguntado sobre o que o deixa impaciente. Parece aquela impaciência da geração Y? Mas é pior. “Pessoas que fazem tudo muito devagar ou que demoram para entender uma coisa me causam irritação extrema”, completa Marco.

Uma nova leva de jovens chama a atenção de educadores e especialistas em recursos humanos. Eles ainda não chegaram à universidade, mas já demonstram que vão ter um comportamento diferente no mercado de trabalho. Os dias de caçula da geração Y vão acabar. Vem aí a geração Z.

“Eu acho que o que tira a paciência dele é quando ele não consegue rapidamente o que ele precisa, o que ele quer, de mim ou de alguma situação. Porque não é a internet, não é o computador, que, ‘tuf’, já está lá”, diz Sandra Mara Azevedo, mãe de Marco. “Mas se é agora é agora!”, replica Marco. “Tá vendo? Quando é agora, é agora. Só que o seu agora às vezes é um pouco agora demais, entendeu?”, completa Sandra.

“A nossa geração é muito rápida, internet e tudo mais, então a gente quer tudo com muita ansiedade”, afirma Mariana Matheus, 17 anos.

Na linha do tempo, a geração Z nasceu a partir de meados dos anos 90. O mundo desses jovens sempre teve internet, e-mail, celular, e, a toda hora, aparece uma novidade. O ritmo ditado pela tecnologia é decisivo para formar a personalidade da geração Z.

“Essa geração atual não compreende a si mesma, a geração Z, sem que haja digitalização do mundo, das relações, da vida. Ela não se compreende e não compreende a vida fora disso”, diz o educador Mário Sérgio Cortella.

“Às vezes, é o computador ligado, conversa, jogo, música, o celular do lado, a TVA ligada, essas coisas todas, e você vai prestando atenção em tudo que está acontecendo”, explica Rodrigo Lavorato, 17 anos.

“Um menino entra hoje na empresa como um trainee e ele acha que, se em 2 anos, ele não for um dos diretores, ele é um fracassado, se ele é da geração Y. Ele não tem ideia de tempo, de maturação de carreira. A geração Z agudiza essa situação”, afirma Cortella.

A tecnologia também molda uma geração em que a comunicação é instantânea e nem sempre depende do olho no olho. Parece contraditório, mas eles se comunicam tanto que ficam isolados na própria casa.

“Sabe que eu levei ele no otorrino, porque achava que ele tinha problema de surdez? Porque eu abria a porta do quarto, falava com ele, na quarta, na quinta vez, quando eu estava berrando, é que ele me respondia. Aí o otorrino falou que o ouvido dele é seletivo, ele só ouve o que ele quer. Mãe acho que não é uma coisa que ele gosta muito de ouvir”, diz Sandra, sobre o filho Marco.

“A gente fica menos na sala. A sala não é mais um lugar de convívio da família e eles vão para os seus quartos, mas a gente não pode dizer que eles fizeram isso sozinho. Os seus pais ajudaram a educar dessa forma”, afirma Eline Kullock, presidente do Grupo Foco.

“A maioria das famílias não acompanha esses adolescentes. Eles ficam sozinhos porque os pais trabalham. Dessa forma, eles estão acostumados a ficar com eles mesmos, independentes, a fazer as coisas do jeito que eles querem e quando eles querem. Então, no momento que eles têm que dividir, isso se torna muito difícil”, diz a professora Desirée Azevedo.

É uma geração conhecida como individualista. Pensando no futuro, esses jovens podem ter muita dificuldade de trabalhar em equipe. E tanto o trabalho em equipe quanto a paciência essa geração precisa cultivar. Quando chegar nas empresas, ela vai ter que se acostumar a ajudar os mais velhos com a tecnologia, como acontece em casa. E já imaginou tratar um colega ou um chefe assim?

“Tentei ensinar minha avó uma vez. Não deu certo. Porque ela não conseguia nem mexer no mouse. Ela não conseguia entender como o mouse se movia na tela. Ela não conseguia. Fiquei dois minutos e desisti. Falei ‘Vó, vai cozinhar’”, diz a estudante Andrea Teixeira.

A geração Z há de ter o seu lugar, assim como as outras. Os baby boomers, experientes e que vestem a camisa da empresa. A geração X, mais dedicada ao trabalho, e que combina um pouco da experiência dos mais velhos com o pique dos mais novos. E a geração Y, cheia de ideias, de energia, de capacidade para inovar.

“Essas gerações que convivem podem ter uma relação de aprendizado ou podem ter uma relação de rejeição. Essa mescla de gerações oferece um aumento de repertório para soluções. Empresas inteligentes mesclam gerações nos projetos, nas equipes, para obter aumento de repertório e, portanto, de arsenal de respostas”, conclui Cortella.

Respeitadas as habilidades de cada uma, todas as gerações têm o seu espaço. “Se eu tiver que alocar pessoas numa função de planejamento, eu diria que esse é o baby boomer. Para definir orçamentos, quanto vai custar, eu diria que são os práticos da geração X. Esses vão saber alocar recursos muito bem. Para partir para ação, eu diria a geração Y, que é mais imediatista, não quer planejar, quer sair na rua vendendo, criando. Então, se a gente puder fazer esse círculo, todas elas vão se complementar muito bem”, diz Eline.

“É uma troca, entendeu? Eu sempre tive facilidade, sempre busquei retirar o melhor das pessoas mais velhas porque eles têm sabedoria”, explica Júlia Rizzi, estudante. http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2010/11/ritmo-da-tecnologia-e-decisivo-para-formar-personalidade-da-geracao-z.html